terça-feira, 4 de março de 2008

And the Oscar goes to...

por Raphael Paradella

Noite de gala para o cinema mundial: o Oscar 2008. No último domingo, dia 24, a rede Globo transmitiu as premiações da festa da sétima arte. Para a apresentação: Maria Beltrão. Comentários: José Wilker. Lembranças: um comentário infeliz.

“Os efeitos visuais são formas de esconder a falta de idéias”. A frase proferida logo após o anúncio do vencedor “A Bússola de Ouro” passou a impressão de desmerecimento da categoria em prol de outra, a de “direção de arte”. É estranho pensar que um ator, diretor, cinéfilo e crítico, não entenda ao certo a funcionalidade e a importância que as duas premiações assumem no contexto cinematográfico.

Torna-se, então, necessárias algumas avaliações e associações de conceitos. Comecemos a relembrar do cinema em sua essência básica de representação do real. Outra concepção já mencionada é o título de 7ª arte a película, que como tal deve ser encarado como a expressão do artista, no caso a equipe de produção, perante algum fato concreto ou imaginário. Resumindo, o cinema é a arte que apresenta uma visão de mundo tangível ou não – a recriação do real. A partir disso temos a noção de que para o criador não existe barreiras que muitas vezes não se tornaram visíveis com apenas um jogo de luz, uma angulação bem feita, um enquadramento exato ou um boneco. Alguém pode até pensar que a famosa e clássica saga de George Lucas, “Star Wars” (não falamos, no caso das mais recentes gravações, mas sim, das primeiras versões), não é a “10ª maravilha do mundo”, mas é indispensável o reconhecimento de que uma mente criativa – logo, cheia de idéias – e um conjunto de efeitos visuais foram indispensáveis para a materialização de uma grande obra cinematográfica.

Neste ponto abrimos, então, mais uma lacuna para explicar o componente fundamental de qualquer efeito visual: as idéias. Platão, grande filósofo grego, ao escrever o “Mito da Caverna” explicitou a importância do homem inserido em um mundo escuro no qual as noções de realidade partiam de um imaginário, ou mais conhecido como mundo das idéias. A luz da realidade, segundo o mito, juntamente com as acepções imaginárias resultam no conhecimento do mundo. Assim, podemos traçar duas linhas de raciocínio nas quais as idéias “fantasiosas” do autor podem ser inseridas no campo abstrato de pensamento de Platão e os efeitos são os meios de transportar as idéias para o concreto. Para a conclusão deste pensamento temos um encontro entre essas duas diretrizes que é o cinema. Nisso, temos o exemplo do tão comentado “The Lord of the Rings” (O senhor dos Anéis). Vencedor de 11 estatuetas, o último filme da trilogia transpassa toda a criatividade do autor para a “realidade” cinematográfica por meio de vários efeitos especiais.

“Titanic”, vencedor de 13 Oscars em 1997, adotou um uso diferenciado dos efeitos, ao retratar um caso histórico. Ou seja, para dar maior realidade às cenas da tragédia de 1912, a utilização dos recursos visuais foi de grande importância, não pela falta de idéias, mas como acréscimo das mesmas para a melhoria da qualidade da arte cinematográfica.

Depois de ter todos esses pensamentos em mente – matéria intelectual básica para qualquer apreciador da sétima arte – temos clara a percepção de que o comentarista da Rede Globo se portou de maneira infeliz. E que “esconder a falta de idéias” na verdade é a “adaptação das idéias”. Sendo assim, peço licença à Academia para criar mais uma categoria, a da “pérolas da falta de bom senso”. And the Oscar goes to... “José Wilker”, por comentários do Oscar.

segunda-feira, 3 de março de 2008

Saiu na mídia...

por Raphael Paradella

Caros Leitores,

Acreditamos que, mais do que somente nossas críticas, vocês merecem ler matérias interessantes que saem nos veículos de comunicação. Pensando nisso, nosso blog traz a partir de hoje a coluna semanal "Saiu na mídia".

Para iniciar este trabalho, trazemos essa semana uma matéria divulgada na Revista Época (Edição: 510), de 25 de fevereiro de 2008.


Att.


Blog Janela

Ver o mundo é ter informação


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20 coisas que nos infernizam...e o que fazer para (tentar) resolvê-las
Seu computador, que já foi uma máquina, virou uma irremediável carroça? Você perdeu todos os seus arquivos e esqueceu de fazer back-up? A bateria do celular deixou você na mão bem no meio daquela ligação importantíssima? Você não consegue pregar o olho por culpa do alarme do carro do vizinho, que disparou no meio da madrugada? Você não está sozinho. Quem foi que disse que a tecnologia surgiu para facilitar nossas vidas? Segundo o historiador americano Edward Tenner, as empresas vendem uma ilusão tecnológica. Mas ela não passa disso mesmo, uma mera ilusão. Se a tecnologia existisse para resolver nossos problemas, como explicar que tanta gente se queixa de ter menos tempo livre hoje que no passado? Por que o encantamento provocado pela aquisição de um novo produto com freqüência é seguido por uma impressão desconfortável de dinheiro jogado fora – ou pela constatação de que uma necessidade foi resolvida, mas outra nova surgiu, e no balanço final o saldo foi mais uma dor de cabeça? Olhe para seu dia-a-dia e leve em conta o seguinte: há quase 40 anos o homem pôs os pés na lua. Mas ninguém ainda descobriu como fazer uma meia que não desfia, um esmalte que não descasca, um condicionador de ar que não deixa ninguém de cara amarrada ou uma bateria que ninguém precisa recarregar – ou jogar fora. As próximas páginas apresentam 20 dores de cabeça do moderno cotidiano tecnológico e sugestões para livrar-se delas ou minimizá-las – quando isso é possível, claro.

1. PROGRAMAS QUE DÃO PAU: Quantas vezes seu computador “deu pau” e teve de ser reiniciado? Não existe software 100% infalível. Todos são instáveis. O motivo pode ser compreendido conhecendo a história do Windows, sistema operacional que faz funcionar a maior parte dos computadores domésticos do planeta. Ele sucedeu ao sistema operacional DOS, dos primeiros PCs, no início dos anos 80. O DOS começou com alguns milhares de linhas, mas, à medida que crescia a capacidade dos chips, aumentava a complexidade do programa. Como as cascas de uma cebola, cada nova versão era acrescida de dezenas de novas funções, dezenas de milhares de linhas de programação e milhares de possibilidades de conflitos. Mas, como produtos têm data de lançamento, os programadores vivem mergulhados numa corrida contra o tempo, tentando eliminar o maior número possível de bugs – uma tarefa inglória. O Windows XP, lançado em 2001, foi o primeiro software a romper a barreira dos 100 milhões de linhas. Quantos milhares de códigos conflituosos não se escondem nesse palheiro binário? Quantas brechas de segurança estão à espera de um hacker que as detecte? “Como o que vale para o Windows vale para toda a indústria de software, é impossível acreditar que um programa funcione perfeitamente em computadores com configurações diferentes”, diz Fernando Vanini, professor de Engenharia de Software da Unicamp.
SOLUÇÃO: minimizar os problemas, baixando as atualizações assim que elas estiverem disponíveis.

2. SPAM: O termo spam, abreviação em inglês de “spiced ham” (presunto condimentado), era originalmente apenas uma marca de presunto enlatado. Numa comédia do grupo inglês Monty Python, vikings reunidos numa taberna pedem insistentemente: “Spam, Spam, Spam!”. E chovem latas de presunto. Algo semelhante acontece na internet. Os spams são aquelas mensagens eletrônicas com propaganda e correntes que não param de chegar ao e-mail. O lixo eletrônico que entope nossas caixas postais hoje responde por mais de 85% do tráfego mundial na rede. Dá para administrá-lo? Há diversos programas anti-spam. Eles analisam o conteúdo das mensagens no provedor, comparam os remetentes com listas mundiais de e-mails não-solicitados e exibem o resultado no monitor informando quais mensagens devem ser eliminadas. Mas nenhum é 100% eficaz. Sempre alguma mensagem importante acaba classificada como spam. Nem os filtros de serviços como Hotmail, Gmail e Yahoo escapam. É sempre bom verificar a caixa de spam para ter certeza de que nada daquilo que você estava esperando ansiosamente está prestes a ser deletado para todo o sempre.
SOLUÇÃO: uma dica é criar duas contas de e-mail. Uma você fornece toda vez que for abrir algum cadastro. A outra você só dá para os amigos e contatos profissionais. Também não resolve 100%, mas ajuda.

3. CENTRAL TELEFÔNICA: O atendimento telefônico foi considerado uma das maiores inovações no início do século passado. Já não era preciso se deslocar até a loja para reclamar de um produto defeituoso. Com a explosão do telemarketing nos anos 80, o serviço virou uma estratégia para as empresas evitarem o contato direto com o consumidor. No Orkut, a comunidade Eu Odeio Telemarketing tem 15 mil membros. A lista de queixas é extensa: a gravação eletrônica raramente oferece a solução para o problema e o atendimento personalizado demora. E os atendentes são mal preparados: usam o gerúndio em excesso e não oferecem informações precisas. De acordo com os analistas de mercado, o setor cresceu rápido demais e hoje emprega cerca de 1 milhão de pessoas. Parte delas sem formação adequada e incapaz de dar conta da clientela. SOLUÇÃO: o único jeito é, quando for possível, boicotar as empresas que não atendem bem.

4. ATENDIMENTO BANCÁRIO: Os bilhões investidos em automação bancária na década de 90 prometiam maravilhas ao cliente. Menos tempo no caixa, menos tempo na fila e atendimento em casa pela internet. Dos mais de 36 bilhões de transações bancárias feitas no país em 2006, menos de 10% foram realizadas pela internet. Conclusão: as pessoas ainda querem ser atendidas por outras pessoas, e as filas não sumiram. A espera ainda é uma das razões por que os bancos estão entre os três setores campeões de reclamação dos consumidores. SOLUÇÃO: evitar dias de pagamento e horários de pico, como a hora de almoço. Em alguns municípios, a lei garante que quem espera mais de 20 minutos na fila em dias comuns e mais de 30 minutos em dias de pagamento do INSS pode exigir indenização.


5. CELULAR INCONVENIENTE: Eles facilitam a vida. Nos últimos anos, se transformaram em companheiros inseparáveis. Servem para baixar e ouvir músicas, jogar, acessar e-mails, tirar fotos, filmar e assistir a vídeos. Há no Brasil mais de 120 milhões de celulares. Metade dos seres humanos do mundo tem um celular. E nem todos são bem-educados. São comuns os toques esdrúxulos, aqueles que falam alto demais, alegando que a ligação está ruim (normalmente no elevador). Há até quem se orgulhe de usar a dança do créu como toque de celular.
SOLUÇÃO: se alguém agir assim perto de você, reclame. Com educação.



6. MANUAIS TÉCNICOS CONFUSOS: O manual técnico de um aparelho vem com instruções claras para que ninguém erre nem na instalação nem no manuseio, certo? Errado. A letra é pequena. O texto é complicado e vem, em geral, com termos mal traduzidos. Mesmo em empresas grandes não há a prática de testar os manuais. “Assim como a indústria testa o produto, ela precisa dar um manual para um consumidor comum experimentar”, diz Maria Inês Dolci, da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor. “Os manuais têm de ser escritos de forma que crianças de 12 anos os entendam.”
SOLUÇÃO: evite comprar produtos no exterior. Assim você lê as instruções em português e pode recorrer ao Código de Defesa do Consumidor do Brasil para se defender.


7. PROFUSÃO DE SENHAS: Quem nunca esquece nomes de usuário e senhas de computador não é humano, é máquina. E as máquinas são impiedosas. O problema remonta à origem do sistema de senhas nos anos 60. Foi o jeito que os administradores dos antigos centros de processamento de dados deram para controlar o acesso aos grandes computadores. A lógica se manteve mesmo depois da disseminação dos micros. A multiplicação dos serviços que requerem senhas complicou nossa vida. Para piorar, as redes corporativas exigem a troca periódica das senhas. Apesar de saber que devemos memorizar a nova senha (e nunca anotá-la), a maioria das pessoas não faz uma coisa nem outra. Acaba barrada na rede, no site de e-mail ou no caixa eletrônico. Há quem prefira usar uma única senha fácil de lembrar em todos os serviços que usa. Sob o ponto de vista de segurança, é a pior decisão possível. Se essa senha for descoberta por um hacker, toda a privacidade vai desmoronar.
SOLUÇÃO: quem disse que a tecnologia foi feita para facilitar nossa vida?


8. ESMALTE DESCASCADO: Os chineses coloriam as unhas com pastas para indicar posição social. Os egípcios usavam hena. As mulheres modernas usam esmalte, uma mistura de pigmentos e substâncias químicas capaz de dar brilho quando fixada às unhas. O costume de pintar as unhas é antigo, mas até hoje ninguém conseguiu resolver um problema básico: o esmalte descasca. Se a manicure não remover direito o hidratante usado para amolecer as cutículas, o esmalte acaba não entrando em contato com a superfície da unha e não fica bem fixado. Por isso, pode lascar. “Qualquer vestígio de água ou gordura faz o esmalte descascar”, diz Cléber Contente, gerente da empresa de cosméticos Impala.SOLUÇÃO: uma das novas tecnologias usadas pelos fabricantes adiciona proteínas da seda ao esmalte para formar uma camada mais uniforme sobre a unha. Outra opção é usar uma base feita com microesferas de cerâmica. Ela deixa a superfície da unha mais lisa e aumenta a fixação do esmalte. A L’Oréal pretende lançá-la em março.

9. BROCA DE DENTISTA: Quando a broca do dentista foi inventada, no século XIX, ela não era movida pelo motorzinho barulhento. Funcionava a manivela. A broca foi sendo aprimorada para remover com mais precisão e menos dor o tecido do dente infectado por bactérias, conhecido como cárie. Até hoje, ela causa pavor. A remoção de uma cárie dói porque a broca acaba retirando não só a parte infectada, mas também um pouco do tecido sadio do dente. Parte do incômodo também é provocada pelo calor da rotação da broca. Além disso, a pressão do motor na boca gera uma sensação de desconforto. SOLUÇÃO: existem alguns tipos de gel que amolecem a cárie. O dentista só tem de raspar depois. E não há dor. Uma versão à base de papaína, uma substância da casca do mamão, foi patenteada pela dentista brasileira Sandra Kalil Bussadori. Um grupo de pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais também desenvolveu uma broca que não gira. Sua ponta, de diamante sintético, vibra por ultra-som e permite atingir a cavidade dentária sem esmagar o tecido sensível do dente.

10. EMBALAGENS PLÁSTICAS DÍFICEIS DE ABRIR: Cada vez mais produtos vêm embalados entre duas lâminas de plástico duro, cujas bordas são seladas. O efeito visual é bonito. A embalagem protege o produto dos choques durante o transporte, é reciclável e também serve, de acordo com Luciana Pellegrino, da Associação Brasileira de Embalagem, para que itens pequenos sejam mais difíceis de roubar. O problema é abrir a embalagem. A operação envolve tesouras, facas, canivetes, estiletes ou até os dentes – e é perigosa. Em 2004, aproximadamente 6.500 americanos foram internados depois de se ferir ao tentar abrir uma embalagem desse tipo.
SOLUÇÃO: uma alternativa é a embalagem com papel-cartão no verso. Para trocar os equipamentos que embalam os produtos, os fabricantes repassariam o custo no preço. Outra saída é simplesmente esquecer a embalagem e amarrar os produtos às prateleiras com cabos de segurança para evitar os roubos.

11. COMPUTADOR OBSOLETO: O Brasil já é o quinto mercado mundial de computadores. A classe emergente nacional faz fila para comprar seu primeiro PC. Mas as máquinas teimam em ficar obsoletas rapidamente. Por quê? A lógica da indústria de computadores é semelhante à das montadoras de carros. Ambas lançam novos produtos para nos fazer descartar os antigos. Essa estratégia, chamada obsolescência programada, foi criada na década de 20 por Alfred Sloan, então presidente da General Motors. Sloan decidiu seduzir os consumidores para que trocassem de carro com freqüência, apelando para a mudança anual de modelos, cores e acessórios. Em 1922, a GM assumiu a liderança do mercado, condição que ostenta até hoje. Bill Gates, o fundador da Microsoft, adotou a mesma fórmula nas atualizações do Windows e o fabricante de chips Intel usa o mesmo procedimento para lançar seus chips. Não é à toa que o livro de cabeceira de Gates é a autobiografia de Sloan.SOLUÇÃO: não há. O único remédio é comprar o melhor computador que seu bolso pode pagar.


12. RADAR DE TRÂNSITO: Inventado na Segunda Guerra Mundial, o radar começou a ser usado para detectar o excesso de velocidade nas estradas americanas já nos anos 50. O objetivo – nobre – era aumentar o poder de fiscalização da polícia. Ao realizar automaticamente o trabalho dos guardas de trânsito, os radares funcionam como um fator disciplinador para os motoristas e contribuem para reduzir o número de acidentes e de mortes. No Brasil, os radares estrearam na década de 90. O número de acidentes caiu 43% em apenas sete anos em São Paulo. Mas o radar também se tornou um estorvo para os motoristas. Só em São Paulo foram lavrados 2,8 milhões de multas automáticas por radar no ano passado. A única defesa dos motoristas contra as multas é recorrer a um detector de radar – o que é ilegal.SOLUÇÃO: a única solução real é respeitar os limites de velocidade.


13. MEIA-CALÇA RASGADA: A meia-calça surgiu na Mesopotâmia há 2.200 anos, como forma de proteger soldados do frio e de facilitar a montaria. Hoje, as meias-calças modelam as pernas femininas e disfarçam imperfeições naturais, como varizes e manchas. Os fios são às vezes mais finos e delicados que cabelos. “Nove quilômetros de fios usados numa meia-calça pesam apenas 40 gramas”, afirma Ary Silva, gerente de controle de qualidade da Trifil. Resultado: o tecido costuma rasgar nos momentos mais inoportunos.SOLUÇÃO: a empresa Okamoto planeja lançar em 2010 meias feitas com um fio duas vezes mais resistente. É produzido por bichos-da-seda que receberam um gene de uma aranha cuja teia é mais forte que o aço. Outra inovação, do inventor Yoshiumi Hamada, é uma seda em spray, que dá às pernas a aparência de estar com meias. Ela ainda resolve outro inconveniente: o calor.

14. ALARME DE CARRO: Os alarmes foram desenvolvidos para inibir o furto de veí­culos. Apesar disso, eles nunca deixaram de crescer, acompanhando a expansão da frota. Se não resolveram o problema do furto, os alarmes criaram outro. Costumam disparar na hora errada. Na madrugada acordam toda a vizinhança e o proprietário – ele não tem culpa, mas como não odiá-lo? – demora a aparecer. Dependendo da sensibilidade do alarme, basta esbarrar num carro para ele começar a berrar. Mesmo que amanhã acabassem os furtos de veículos, os alarmes continuariam disparando.
SOLUÇÃO: se o alarme que disparou for o seu, abra o capô e desconecte os cabos da bateria – é mais fácil que procurar a caixa de fusíveis e o pino que desliga o alarme. Se o carro for dos outros, não há nada a fazer, senão esperar.

15. DETECTOR DE METAL: As portas que detectam metais existem em quase todas as agências bancárias. Elas impedem a entrada de gente armada e servem para aumentar a segurança de quem está lá dentro. Mas as portas raramente barram material bélico. Elas se tornaram especialistas em reter celulares, moedas, guarda-chuvas, brincos de prata e gargantilhas de ouro. Quem tenta atravessá-las é submetido a uma radiação eletromagnética que capta a presença de mais de 50 tipos de metal, principalmente os presentes na confecção de balas. Ao encontrar massa metálica em quantidade maior que a estabelecida pelo sistema, a porta trava. O sistema não é inteligente a ponto de identificar se o objeto é uma bala ou um cordão de ouro. A porta pode estar calibrada de forma a detectar até presenças mínimas de metal, insuficientes para fabricar uma bala, mas suficientes para forrar uma presilha de cabelo.
SOLUÇÃO: os detectores de metal devem ser submetidos a calibragens constantes. “A revisão das portas deve ser feita diariamente”, diz Pedro Eugênio Lagos, da Ieco, fabricante gaúcha dessas portas.

16. AR-CONDICIONADO DESREGULADO: O aparelho de ar condicionado foi inventado em 1902 pelo americano Willis Carrier. Seu objetivo era manter baixos os níveis de temperatura e umidade nas gráficas, onde o calor interferia nas condições do papel e da tinta. O primeiro prédio a adotar a novidade foi a Bolsa de Valores de Nova York. Isso catapultou o uso nos escritórios. Só foi possível disseminar as construções envidraçadas graças ao condicionamento de ar. Sem ele, seriam gigantescas estufas verticais. Problemas surgem quando o sistema fica desregulado e deixa as pessoas suando ou morrendo de frio.SOLUÇÃO: não existe. É impossível regular a temperatura para satisfazer a todos. Cada pessoa tem um termostato interno. O frio ou o calor em excesso é o preço a pagar pela vista panorâmica.

17. TELECONFERÊNCIA: A teleconferência é uma tecnologia que permite às empresas economizar milhões. Não é preciso pagar viagens para reunir vários funcionários. Mas são raras as vezes em que o som da ligação é cristalino, sem a interferência de ruídos. Outro problema comum é a conexão de um dos participantes cair no meio da reunião – isso quando não é a conferência inteira que desaba. Os aparelhos usam um sistema que desliga os microfones depois de um período de silêncio. Só que isso costuma cortar o início das frases quando alguém volta a falar. São comuns os ecos e repetições. SOLUÇÃO: nos sistemas atuais, nunca comece falando depressa. Há sistemas mais modernos que gravam digitalmente o início da frase e são capazes de recompô-la integralmente para todos os ouvintes. Às vezes, é melhor não fazer a reunião e resolver tudo por e-mail.

18. BATERIAS DE VIDA CURTA: Desde que foram inventadas por Alessandro Volta, em 1799, as pilhas e baterias pouco mudaram. O engenho humano foi capaz de pôr homens na Lua, mas ainda não conseguiu construir uma bateria que alimente o funcionamento contínuo de um laptop por mais de duas horas. As baterias são dispositivos que convertem energia química em elétrica por meio de reações entre seus componentes. Nas baterias recarregáveis, as reações podem ser repetidas um número limitado de vezes. E as cargas duram pouco. SOLUÇÃO: algum dia, baterias baseadas em hidrogênio terão autonomia maior. Mas essa tecnologia levará pelo menos uma década para ficar pronta. Pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) desenvolveram um processo para transmitir eletricidade sem fio de modo tão eficiente quanto uma tomada. “Não dá choque”, diz André Kurs, um brasileiro que integra a equipe. Ele espera ver a nova tecnologia no mercado no máximo em cinco anos.

19. TINTAS MAIS CARAS QUE A IMPRESSORA: Nunca se vendeu tanta impressora no Brasil. Foram 4,3 milhões de unidades em 2007 e a previsão para 2008 é de 5 milhões de unidades. Mas a satisfação de adquirir uma impressora nova e barata – há modelos na faixa de R$ 200 – acaba na hora em que o cartucho de tinta seca. Aí o consumidor se vê obrigado a gastar até R$ 1.400, dependendo do modelo do cartucho. O negócio dos fabricantes não é vender impressoras, mas cartuchos. É o mesmo modelo de negócio criado pelo americano King Gillette. Ele percebeu que seria lucrativo vender aparelhos de barbear a preço reduzido, obrigando os consumidores a pagar mais na hora de comprar as lâminas. Em 1903, a Gillette Company vendeu 51 barbeadores e 168 lâminas. Em 1915, foram 450 mil e 70 milhões, respectivamente.
SOLUÇÃO: tente guardar os cartuchos usados para trocar na compra de um novo ou na hora da recarga. E só imprima o que for absolutamente necessário, de preferência em preto e branco. De quebra, ainda vai contribuir para derrubar menos árvores e para deter o aquecimento global.


20. TELAS INSENSÍVEIS AO TOQUE: Ficou feliz com seu novo smartphone com tela sensível? Aproveite, porque ele dura pouco. A vida útil desses aparelhos é estimada em dois anos, e não há muito a fazer contra isso. As telas sensíveis ao toque têm uma espécie de malha de tecido entre o visor de cristal líquido e o plástico externo. São minúsculos filamentos verticais e horizontais que conduzem eletricidade. Quando o dedo ou a caneta encostam na tela, a eletricidade que corre sobre esse tecido se concentra num ponto só. O programa do aparelho interpreta esses toques. O problema é que esses fios são frágeis. E o esmalte que os protege não é tão resistente. Quando ele descasca, os fios se rompem e a tela perde a sensibilidade naquele ponto. A própria pressão dos dedos pode danificar a proteção. Outras ameaças são a umidade, presente no suor das mãos, e o ar salino do litoral. O plástico da tela, em tese, é impermeável às gotículas d’água. Ao longo do tempo, ele deixa a umidade passar para dentro do aparelho. A temperatura de um país tropical é um dos maiores inimigos dessa tecnologia. A capa protetora foi projetada para agüentar até 40 graus Celsius. “Dentro do carro ou exposto ao sol, o aparelho pode chegar a 70 graus”, diz João Zuffo, da Escola Politécnica da USP.
SOLUÇÃO: evite o sol e a umidade.

sábado, 1 de março de 2008

Nem sempre o que parece é...

Por Raphael Paradella

“A primeira impressão é a que fica”. Todo mundo já ouviu esse ditado alguma vez na vida. Sem dúvida isso deve ser levado a sério no panorama empresarial contemporâneo, contudo devemos entender que neste aspecto não tratamos especificamente do quesito beleza, mas sim de uma boa apresentação. Algumas pesquisas comprovaram cientificamente que se uma pessoa é bonita tem mais chances no mercado de trabalho. Assim, caímos no dilema: o que importa mais, a competência ou a beleza?!

Para a pesquisa, foram escolhidas, por exemplo, duas mulheres – uma bonita e outra com aparência normal – que foram treinadas para reagirem de maneira parecida, com o mesmo currículo e com roupas semelhantes. O estudo comprovou que o tratamento dado a cada uma delas foi diferenciado, dando vantagens à mulher mais bonita. Contudo o estudo não levou em consideração que a mais bonita foi maquiada e arrumada, enquanto a outra recebeu rugas e olheiras. Estes aspectos não estão ligados à beleza, mas sim uma boa aparência, afinal os pontos positivos de uma - como olhos verdes - foram ressaltados, enquanto a outra transmitia uma imagem de cansaço.

O mundo corporativo está cada vez mais exigente e o profissional deve ser qualificado, ter uma ótima experiência profissional e formação superior. Contudo, ele precisa garantir uma boa impressão. Os gestores empresariais buscam cada dia mais pessoas agradáveis para se trabalhar, o que envolve personalidade e sem dúvida a imagem condizente com a realidade e os padrões comportamentais da empresa. Não adianta, por exemplo, uma mulher bonita ir trabalhar, ou para uma entrevista, com uma saia curta e um decote exagerado se essa postura não está em sintonia com a imagem que a empresa deseja passar. Podemos dizer que a imagem é um dos quesitos mais importantes, se não o mais, no mundo corporativo, e esse é composto de vários fatores, como a postura, a personalidade, a forma com que se fala, o cuidado consigo mesmo, uma apresentação adequada, a competência e um pouco de beleza.

Segundo a Consultora estética, Gláucia Santos, que participa do site Catho Online (especializado em vida profissional), a imagem da pessoa funciona como um cartão de visitas. "Isso já começa no momento da entrevista de emprego, quando o candidato se apresenta ao selecionador. A forma como a pessoa se veste ou fala já diz muito sobre como ela é profissionalmente, então, é preciso manter uma boa imagem pessoal sempre!". Isso nos faz repensar um pouco a questão do ditado popular explicitado no início deste texto. Afinal, a primeira imagem é a que fica se a convivência não for tão cotidiana. Entendemos que realmente uma boa apresentação é um diferencial no mercado, contudo, se essa boa impressão não for mantida ou acrescida, a “primeira imagem” poderá dar lugar a um aspecto negativo, caso a imagem não seja condizente com a realidade.

Tendo tudo isso em vista, podemos concluir que as empresas cobram do profissional assim como o mercado cobra das empresas. Na disputa por novos mercados, a consolidação e manutenção permanente de uma imagem adequada na sociedade podem dar destaque e pontos positivos a uma organização, desde que esta esteja alinhada à realidade da instituição.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Tendências do Jornalismo (por Luiz Otávio Tal)

“O Jornalismo será interpretativo, não por dar a interpretação feita, digerida, mas por permitir fazer essa interpretação a quem legitimamente deve fazê-la, que é o público”.

César Luís Aguiar[1]

Amparado pelo livro de Luiz Beltrão[2] pretendo traçar neste post, de maneira breve, os caminhos pelos quais a imprensa tem se enveredado na atualidade. A apuração mecânica não resistiu ao tempo. Hoje não basta o jornalista oferecer simplesmente a informação crua, ele deve tratá-la a fim de que as pessoas se inclinem para recebê-la.

O repórter pode trabalhar seu texto sob três perspectivas: de modo vertical (intensivo), onde há um aprofundamento do fato, levantando uma hipótese que pode ser apresentada de maneira impositiva ou opinativa; de modo horizontal (extensiva), quando há a interpretação dos fatos, ou seja, o que interessa são as forças que atuam sobre o acontecimento; e de maneira sensacionalista, em que a sonegação de informações e fontes levam o receptor a conclusões óbvias e convenientes.

O advento tecnológico capacitou a massa junto à interpretação das informações, alargando a superfície de contato. As antigas teorias da comunicação, que pintam uma população surda, muda e cega, já não têm mais valia. Contudo, a entrada da globalização pode implicar na negação do jornalismo extensivo, pois o dinamismo diário poda o tempo necessário à interpretação dos fatos, logo muitos ainda insistem em um aprofundamento tendencioso, que leva ao receptor a conclusão dos fatos.

O Caminho natural seria o desapego da parcialidade na verticalização e o insentivo das técnicas horizontais, por mais que seja evidente que é impossível a construção de uma matéria totalmente imparcial, uma vez que cada repórter possui características que lhes são únicas. Mesmo que ainda existam pessoas “atomizadas” (e ainda existe), que funcionam no sentido estímulo-resposta, é evidente que o jornalismo interpretativo não seja um empecilho para estas absorverem a informação, uma vez que proliferam na sociedade líderes comunitários, seja no campo ideológico ou no núcleo familiar, que traduzem a linguagem recebida de acordo com os interesses de cada bloco da massa. Em outras palavras, alguns serão “alimentados” pela palavra de um padre ou um pastor, já outros vão depender da análise do William Bonner no Jornal Nacional.

Ao folhear qualquer jornal diário logo se percebe que a grande maioria das reportagens apela para a interpretação, contudo, como foi visto ainda persistem a técnica vertical. A título de ilustração, escolhi uma matéria publicada pela Folha On-line para analisar e logo percebi tanto características de um modelo quanto do outro.

A matéria é uma reformulação do trabalho mecanizado das agências de notícias. Sobre as eleições parlamentares no Paquistão, o texto trabalha com um assunto “quente”, que implica em uma reorganização do valor ideológico, uma vez que estão em jogo as relações internacionais.

O primeiro bloco de matéria é o típico exemplo de jornalismo interpretativo. Há a documentação dos fatos: a eleição ocorrerá na segunda (18), pesquisas de opinião revelam a queda da força do partido de Pervez Musharraf e há apreensão por parte da população com o aumento da violência. Em suma, a conclusão é um exercício do público receptor, permitindo o feedback com a empresa jornalística, que é fundamental para o solidificação do veículo.

Já os desdobramentos da matéria estão recheados de conclusões unilaterais. O texto especula as atitudes do ditador, mesmo este tendo afirmado que as eleições ocorrerão no prazo estipulado e que estas serão justas e livres. Musharraf pode até estar mentindo, mas não foi apresentado nenhum documento que comprovasse a farsa, apenas foi levantada a opinião do ex-premiê, Nawaz Sharif, que são apenas opiniões.

A verticalização é uma técnica aceita, desde que construída sob responsabilidades, para que não se converta em um sensacionalismo barato, que vai contra todo o código de ética profissional. Por outro lado, é na extensividade que o repórter consegue crescer, pois deste modo ele entra em contato direto com a ala mais importante: o público.


[1] AGUIAR, César Luís – Interpretación on la Prensa – In Periodistas católicos – ano 5, n° 25- Abril, 1972 (Ed. Da UCLAP – Montevideo).

[2] BELTRÃO, Luiz. Jornalismo Interpretativo: filosofia e técnica. Porto Alegre: Sulina,. 1976.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Saudade (Fernando Pessoa)

Hoje faço uma pausa em minhas postagens habituais para postar Fernando Pessoa, que melhor do que ninguém traduz meu estado de espírito.

SAUDADE

Um dia a maioria de nós irá se separar.
Sentiremos saudades de todas as conversas jogadas fora,
as descobertas que fizemos,
dos sonhos que tivemos,
dos tantos risos e momentos que compartilhamos.
Saudades até dos momentos de lágrima, da angústia,
das vésperas de finais de semana,
de finais de ano,
enfim... do companheirismo vivido.

Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre.
Hoje não tenho mais tanta certeza disso.
Em breve cada um vai pra seu lado, seja pelo destino,
ou por algum desentendimento, segue a sua vida, talvez
continuemos a nos encontrar quem sabe... nos e-mails trocados.
Podemos nos telefonar conversar algumas bobagens...
Aí os dias vão passar, meses... anos...
até este contato tornar-se cada vez mais raro.
Vamos nos perder no tempo...

Um dia nossos filhos
verão aquelas fotografias e perguntarão,
Quem são aquelas pessoas?
Diremos...Que eram nossos amigos.

E... isso vai doer tanto!
Foram meus amigos, foi com eles que vivi
os melhores anos de minha vida!
A saudade vai apertar bem dentro do peito.
Vai dar uma vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente....
Quando o nosso grupo estiver incompleto...

Nos reuniremos para um ultimo adeus de um amigo.
E entre lágrima nos abraçaremos.
Faremos promessas de nos encontrar mais vezes daquele dia em diante.

Por fim, cada um vai para o seu lado
para continuar a viver a sua vidinha isolada do passado.
E nos perderemos no tempo....
Por isso, fica aqui um pedido desta humilde amigo:

Não deixes que a vida passe em branco, e que pequenas
adversidades seja a causa de grandes tempestades...
Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem
morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se
morressem todos os meus amigos!

Fernando Pessoa

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

ENTREVISTA EDSON ARAN (por Luiz Otávio Tal)


Editor da revista Playboy desde abril de 2006. Acumula passagens pela revista Sexy e VIP, além de ser autor de HQs.

- O que o levou a ocupar o cargo de editor na Playboy? Ficou surpreso com o convite?

Fiquei. Apesar de ter trabalhado na Vip por cinco anos, naquela época eu estava dirigindo a concorrente, Sexy, e é raro que a editora Abril busque profissionais na concorrência. Embora o trabalho na Sexy tenha sido muito bom, pois a revista ganhou vendagem e share, batendo três vezes a Playboy nas bancas (algo inédito na história das duas revistas), eu fiquei surpreso. Não esperava o convite.

- No início de sua gestão, qual foi a maior dificuldade que você teve para se adaptar?

Não houve dificuldade, pois eu sempre tive a percepção de que a Playboy e a Sexy eram revistas completamente diferentes, embora estivessem no mesmo segmento de mercado.

- Você tem uma larga experiência com HQs. Isto, de certa forma, ajudou na construção da nova identidade visual do veículo?

Acho que não. A não ser pelo fato de que eu conheço bem os cartunistas da Playboy nos Estados Unidos. Foi por isso que publiquei Dirty Duck, Gahan Wilson e Aninha Bonita e Gostosa no Mundo de Playboy.

- No Brasil, a Playboy não tem qualquer conotação negativa. Isso se deve à forma como o sexo e o erotismo são encarados?

Isso se deve à maneira como a Abril fez a revista nesses 32 anos. De fato, a Playboy brasileira continuou (e continua) fiel à filosofia de Hugh Hefner. Basicamente o que Hefner prega é que a Playboy não é uma revista de mulher pelada, mas sim uma revista de estilo de vida.

- Você já se arrependeu de alguma produção? Achou o ensaio apelativo ou pornográfico?

Nunca, porque eu jamais faria um ensaio apelativo ou pornográfico.

- Já vetou alguma foto considerada agressiva?

Já, claro, inúmeras. Se bem que, quando você tem um conteúdo jornalístico de qualidade, você ganha certa liberdade para ser mais ousado. Mas há um limite tênue, não-escrito, sobre até onde se deve ir.

- Como é feita a seleção de uma modelo?

Levamos em consideração o grau de exposição na mídia, a “gostosura” e o nosso Plano Operacional (no começo do ano montamos um plano que especifica valores de cachês, expectativa de venda e lucro presumido).

- Qual estrela você gostaria de ter na capa, mas ainda reluta em assinar o contrato?

Uma dezena delas: Camila Pitanga, Ana Paula Arósio, Cléo Pires, etc. A lista é longa.

- Apesar de o Brasil ser um país miscigenado, em toda história da Playboy apenas cinco mulheres negras estamparam a capa. O que explica esta disparidade?

Porque apesar de o Brasil ser um país miscigenado, não existem muitas estrelas negras nas novelas e programas de TV. Quantas, de fato, têm papel de destaque? Muito poucas. Nós estamos muito longe de termos, no Brasil, atrizes ou cantoras negras com o destaque de uma Beyoncé ou de uma Halle Berry, por exemplo.

- Quais as diferenças entre a Playboy brasileira e a norte-americana?

A brasileira é melhor, tem mais peso editorial, entrevistas mais sólidas e é mais respeitada. Além disso, não é uma top shelf magazine, ou seja, é muito bem posicionada no centro da banca, enquanto a Playboy nos Estados Unidos fica ao lado da Penthouse ou da Hustler. Como eu disse antes, isso acontece porque a publicação no Brasil é mais fiel aos princípios de Hefner do que a própria edição americana.

- Em média, qual o valor do cachê? Dá para comprar um bom apartamento?

Varia muito, mas dá pra comprar algumas dezenas de Big Macs.

- A imprensa sensacionalista, que especula o cachê das modelos, ajuda ou atrapalha o andamento das negociações?

Atrapalha, mas não há o que fazer. Eles escrevem o que bem entendem, fazem jornalismo de ficção.

- Quais ensaios fotográficos marcaram época?

Eu, particularmente, gosto muito do ensaio da Adriane Galisteu na Grécia, que considero o melhor já feito pela revista. Também gosto das fotos de Mylla Christie e da matéria com Flávia Alessandra. O último já na minha gestão.

- Ao lado dos ensaios, a Playboy sempre foi conhecida pelas entrevistas. Nestes anos todos, quais foram as mais importantes? E o que mudou de 1975 para os dias de hoje?

Várias delas. Teve a primeira do FHC onde ele dizia que havia fumado maconha. A do Ayrton Senna. Um dos aspectos que resgatamos na Playboy atual foi justamente a entrevista, que voltou a ter personagens de peso.

- Como você define o leitor?

O leitor da Playboy tem entre 25 e 35 anos, é urbano, de classe média e gosta das boas coisas que a vida oferece.

- É possível dizer que a censura contribuiu para o fortalecimento do conteúdo jornalístico da publicação?

Acredito que não. O período de censura foi muito pequeno na história da revista. O bom conteúdo jornalístico se deve aos diretores de redação que conduziram à revista nesses 32 anos.

- Por que o feminismo, no começo da trajetória da Playboy no Brasil, era o grande “medo” dos homens?

Não sei se era “medo”. O feminismo era um tema pertinente naquele momento e a revista refletia isso.

- Quais desafios o homem atual enfrenta? O que ele anseia?

O desafio é ser bem sucedido na vida pessoal e profissional. Isso não mudou muito. Mudou o papel da mulher na sociedade, mas isso vem mudando ao longo de 5 décadas (estou usando como marco zero os anos 60, embora isso não seja muito preciso), então é uma acomodação natural. Na essência, mudou muito pouco.

- Quem comprava a revista na década de 80 e for comprar uma edição hoje, que diferenças serão notadas?

Os textos ficaram menores e mais objetivos. O desenho gráfico evoluiu e mudou bastante. O tamanho da revista também mudou (perdeu altura), embora isso não seja perceptível numa olhadela apressada. Mas a revista, em essência, é a mesma. O mix de matérias é praticamente igual e a escolha das capas segue a mesma lógica.

- Mesmo com o fim da censura em 1988, as edições de Carla Perez (Dezembro de 2000) e de Ariane Latuf (Abril de 2001) foram censuradas. O que explica isto?

Desconheço essas histórias. Acho difícil que tenham sido censuradas, pois já não existia mais censura no país.

- Qual é o papel do editorial?

Tudo é editorial, inclusive a escolha da modelo de capa, que também deve ser jornalística. Por exemplo: a capa com a bandeirinha Ana Paula é uma escolha jornalística e isso explica o êxito que obtivemos na vendagem.

- Como você define Mário Escobar de Andrade?

Grande editor. Foi o cara que construiu os alicerces da Playboy brasileira. A revista que ele fez é referência até hoje.

- Na gestão de Juca Kfouri, estourava a crise econômica do governo Collor, o que dificultava contratar grandes estrelas. Como Playboy superou esta crise?

A crise foi do país, não da revista. Juca fez o melhor que pôde com o orçamento que tinha em mãos. Contratou bons profissionais e investiu no conteúdo jornalístico. Este é, aliás, o grande diferencial da Playboy. A revista não se resume ao ensaio de capa.

- A que se deve o sucesso de vendas alcançado por Ricardo A. Setti?

Em primeiro lugar à economia sem inflação e ao real forte. Em segundo, ao preço de capa (6 reais), muito mais baixo do que hoje em dia. Ele também teve a sorte de trabalhar com dois fenômenos pop simultâneos: a axé music (Sheilas etc) e as musas do Luciano Huck (Feiticeira, Tiazinha) etc.

- A revista acabou perdendo a identidade na gestão de Cynthia de Almeida. Matérias sem profundidade e estrelas populares eram estampadas todos os meses. Em sua opinião, a que se deve este desgaste?

Naquela época se acreditava que a revista precisava se popularizar para sobreviver, pois havia uma percepção de que o público da Playboy estava envelhecendo. Também há a questão do zeitgeist: as revistas que mais faziam sucesso na época eram as inglesas como Maxim, FHM, Loaded (e, no Brasil, a VIP – a VIP daquela época, não a de agora). Essas revistas eram mais molecas, mais atrevidas e mais pop. A Playboy passou a usá-las como referencial.

- Rodrigo Velloso assumiu o cargo de editor, provisoriamente, com o intuito de recuperar o padrão. Ele foi bem sucedido no seu intento?

Rodrigo Velloso foi meu antecessor e também concorrente, já que na época eu estava na Sexy. Prefiro não comentar a gestão dele.

- As regiões Norte e Centro-oeste são as que acumulam o menor número de leitores. Qual a explicação?

Não tem segredo: baixa densidade populacional e baixo índice de leitura.

- Há também um aumento no número de leitoras. Pode-se dizer que isto é um reflexo da superação da ascensão feminina?

Esse número ainda não é representativo. Menos de 10% dos leitores são mulheres. Esse índice permanece inalterado desde os anos 80.

- A importância da revista pode ser traduzida pelo número de peças publicitárias (cada anúncio de página inteira custa cerca de 90 mil reais). Qual o papel destes anunciantes?

Fundamental. A revista precisa também desta receita.

- Para encerrar, o que o leitor pode esperar daqui para frente?

Em termos editoriais, a Playboy faz um movimento que é back to basics, ou seja, uma volta às grandes reportagens, bons textos, entrevistas sólidas, excelentes ensaios. Estamos mirando num leitor que gosta de ler e não apenas de ver as fotos, pois as imagens estão todas de graça na Internet e não há o que possamos fazer para impedir isso. A estratégia está dando certo. As vendas estão subindo depois de 5 anos de queda e o número de assinantes também. Criamos algumas edições temáticas que vão pontuar o ano: gastronomia (abril e novembro), música (setembro) e retrospectiva/humor (janeiro). Vamos ter pelo menos mais uma temática no ano que vem. O desenho da revista está mais moderno e maduro. Os especiais foram todos reformulados e a idéia é trabalhar em todos os segmentos do mercado: os especiais com fotos, os DVDs e os dois Mundo de Playboy, que são nossas edições premium. Se tudo correr bem até dezembro, vamos tentar ganhar mais páginas no ano que vem.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Do Baú das Traças: Um Cabaret Para Liza (por Luiz Otávio Tal)

Bob Fosse vinha de um fracasso logo na sua estréia na direção. Charity Meu Amor, de 1969, não teve boa acolhida nem pelo grande público nem pelos críticos, apesar de alguns bons números musicais e do excelente desempenho de Shirley MacLaine. O próximo projeto tinha, então, a obrigatoriedade de alavancar bilheterias e comover o circuito da crítica, para que o diretor pudesse continuar ambicionando novos vôos. E foi exatamente o que aconteceu com Cabaret, de 1972, faturando 8 Oscars, incluindo melhor direção, melhor atriz (Liza Minnelli) e melhor ator coadjuvante (Joel Grey).

O filme é ambientado na Berlim dos anos 30, quando estava em ascensão o regime nazista. A grande maioria das canções funciona como um olhar crítico ao movimento. No entanto, todos os conflitos ideológicos são relegados em segundo plano. Todos os personagens observam a barbárie nazista sem se envolverem de fato.

Logo nos créditos iniciais, enquanto aparecem os nomes de todo o elenco, escutamos o burburinho dos boêmios que começam a chegar ao cabaré Kit Kat Club. A expectativa só vai aumentando quando a câmera se afasta, focalizando um espelho que reflete os contornos disformes de todos os presentes. Eis que surge Joel Grey, o mestre-de-cerimônias, que aqui repete o mesmo papel que anos antes fizera na Broadway. A canção de abertura funciona como uma apresentação, a fim de expor junto ao público todas as peças do xadrez. Em um close, Grey encara a câmera e diz: “olá, estranho!”, numa clara alusão de que ali todos são aceitos, de comunistas a nazistas. No cabaré, assim como em uma sala de cinema, todos os problemas são deixados de lado.

Neste contexto, Liza Minnelli é Sally Bowles, uma decadente cantora americana, que se apresenta no Kit Kat Club. A primeira imagem de Sally se dá pela fresta de uma porta entreaberta, que justifica sua famosa frase, repetida várias vezes no longa: “sou a pessoa mais estranha e extraordinária”. A energia de Liza logo toma conta da tela. Entusiasmada, mal deixa espaço para o talento de Michael York, que dá vida a Brian, um estudante gay, que chega a Berlim para prestar doutorado.

Frustrada, Sally vive em um mundo de fantasias, esperando que algum agente lhe dê uma oportunidade no show business em troca de favores sexuais. Ignorada pelo pai, um diplomata americano, vive a mentira de ter um tutor importante e ocupado. Toda esta tensão é extravasada aos berros em frente a um conjunto de linhas férreas. Aqui mais uma alusão: o som do trem que abafa a dor de Sally é semelhante ao ódio nazista que mina o sonho judeu.

O primeiro número musical de Liza acontece no palco do Kit Kat Club. Aliás, todos os números musicais acontecem dentro do cabaré, com exceção de “Tomorrow Belongs to Me”, um arrepiante hino nazista encenado em um café ao ar livre. Cantando Mein Herr, que foi composta especialmente para o filme, a estrela brilha sobre a fotografia premiada de Geoffrey Unsworth. Privilegiando as sombras, apenas o rosto de Sally é iluminado, reforçando o magnetismo de suas expressões, enquanto as dançarinas são encobertas por um refletor vermelho. A platéia, por sua vez, é engolida pela escuridão, pois na verdade somos nós os freqüentadores do cabaré.

O fato é que o filme é todo de Liza Minelli. Ela brilha do primeiro instante ao minuto final. Filha de Vincente Minnelli e Judy Garland, ela seguiu os conselhos do pai, veterano em musicais, na composição de sua personagem: cortou os cabelos de forma inusual e carregando na maquiagem ao redor dos olhos, o que ressalta a força de sua expressão facial. Liza nasceu para ser Sally Bowles. Tanto é assim que depois de Cabaret a atriz nunca mais conseguiu se reinventar, incorporando a persona da cantora decadente. Em seus filmes seguintes sempre trazia alguma característica de Sally, ora a boca suja, que profere impropérios sem o menor pudor, ora o olhar arregalado que desperta curiosidade.

O filme tem uma cena linda. Sally, após tomar banho, seduz Brian. Este, porém, a evita. Ela não aceita o descaso e a indignação fica clara em seu rosto, afinal é uma mulher atraente que desperta o desejo de toda a platéia do Kit Kat Club. Impaciente, tenta de novo seduzí-lo, ao som do jazz vindo da vitrola, e é mais uma vez deixada de lado. A frustração só é desfeita quando descobre que Brian é gay. Neste momento, uma feição de alívio toma conta do seu rosto, contudo, o envolvimento dos dois é inevitável.

Em uma trama paralela surgem Fritz Wender (Fritz Wepper) e Natalia Landauer (Marisa Berenson). Fritz é um caça-dotes alemão, que esconde sua origem judaica, no entanto, observa seus planos naufragarem ao se apaixonar pela milionária Natalia, que também é judia. Este enredo funciona a fim de costurar o clima nazista que permeia todo o filme. Para consumar seu amor Fritz precisa revelar sua identidade, tornando-se alvo do movimento. De um modo geral, o nazismo ainda era visto com ingenuidade pela população. Em determinado ponto do filme um personagem diz que aquele regime é um mal necessário, facilmente controlado, para combater os comunistas.

Após uma hora de projeção, a película perde o ritmo com a entrada em cena de Maximilian von Heune (Helmut Griem), um milionário bissexual que se envolve com Brian e Sally. O erro se deve a falta de expressividade de Griem, que destoa do afinado elenco.

O filme não mostra claramente o envolvimento entre Brian e Maximilian, até porque o homossexualismo era algo, praticamente, inexistente nas telas de cinema. Tudo é revelado por olhares e toques sutis, como na cena em que Brian segura a mão do milionário ao lhe acender o cigarro, ou quando aceita uma cigarreira de presente. O desfecho deste triângulo amoroso se dá em uma cena belíssima. Bêbados, os três se abraçam girando de maneira frenética. Os lábios dos três parecem querer se tocar, mas a câmera, sabiamente, interrompe o clímax, traduzindo uma realidade: Brian ama Heune, que ama Sally, que, por sua vez, não ama ninguém. Helmut Griem, no entanto, entra em cena tão abruptamente quanto desaparece.

Cabaret termina de modo pessimista, em virtude do futuro nada animador. Sally não está preparada para assumir responsabilidades, afinal ela é “a pessoa mais estranha e extraordinária” e como um cabaré, sempre precisa de platéias novas, que venham aplaudí-la e bajulá-la. Em uma das últimas imagens Brian caminha em direção ao trem, que o levará de volta a Londres, enquanto Sally dá as costas caminhando em direção ao espetáculo.


Ficha Técnica

Título original: Cabaret. Direção: Bob Fosse. Roteiro: Jay Presson Allen. Intérpretes: Liza Minnelli, Joel Grey, Michael York, Fritz Wepper, Marisa Berenson, Helmut Griem, Helen Vita, Ralf Wolter, Gerd Vespermann. Produção: Cy Feuer. Fotografia: Geoffrey Unsworth. Desenho de Produção: Rolf Zehetbauer. Direção de Arte: Hans Jürgen Kiebach. Figurino: Charlotte Flemming. Edição: David Bretherton